A “incompetência razoável”

No dia a dia da liderança, somos constantemente convocados a lidar com desafios complexos, muitos deles inéditos, para os quais não temos repertório anterior que nos guie.

Escrito por: Victtoria Mateus

No dia a dia da liderança, somos constantemente convocados a lidar com desafios complexos, muitos deles inéditos, para os quais não temos repertório anterior que nos guie. Nessas horas, recorremos a paralelos com situações já vividas, a números e lógicas da operação ou até buscamos percepções de pessoas-chave do time e da organização. Também pedimos a visão de profissionais de referência, que podem nos aconselhar a partir de experiências próprias ou trazer perspectivas que ainda não tínhamos considerado.

A verdade é que, como líderes, costumamos nos cobrar por ter todas as respostas. Quanto mais rápido reagimos, decidimos e orientamos melhor. Ou pelo menos é isso que acreditamos. Mas percebi que sair desse papel e me colocar em posição de aprender, ouvir e observar transformou a forma como lidero. O verdadeiro papel da liderança não é carregar todo o conhecimento, mas criar condições para que diferentes respostas possam se conectar.

A “incompetência razoável” como estratégia

Mais do que aconselhar a estar ao lado de pessoas que sabem mais do que você, quero provocar uma reflexão: o movimento que você está fazendo hoje realmente gera movimento? Quando foi a última vez que você estudou ou discutiu um tema fora do seu escopo de trabalho? O caminho mais óbvio do desenvolvimento profissional é aprofundar cada vez mais no que já dominamos, mas a grande virada talvez aconteça quando ampliamos a escuta para outros mundos. É quando nos colocamos em ambientes completamente fora da nossa zona de atuação que conexões improváveis florescem e geram os insights mais valiosos.

Foi lendo a reportagem “Executiva usou esta estratégia para crescer fora da zona de conforto: ‘Ajuda a manter o entusiasmo’”, da Exame, que me deparei com um conceito que deveria estar presente em qualquer liderança: a “incompetência razoável”, termo usado por Tina Marcondes, Head of Legal do Nubank. Ele descreve exatamente esse processo de entrar em um tema novo, ainda sem domínio, e se permitir aprender e se sentir “incompetente”. É desconfortável, sim. Dá insegurança, claro. Mas é nesse ponto que a visão estratégica se expande. Quando deixamos de repetir fórmulas conhecidas e abrimos espaço para perspectivas que antes nem estavam no nosso radar, surgem não apenas novos insights, mas também a retomada do entusiasmo pelo trabalho. Experimente se expor a isso na prática: participe de grupos de estudo de temas completamente diferentes do seu, marque conversas com pessoas de outros setores, escute podcasts sobre assuntos que nunca chamaram sua atenção ou vá a eventos de áreas que você jamais considerou. Vá, escute e se permita não entender tudo de imediato, mas o retorno vem de alguma forma. Na minha experiência, já encontrei soluções para desafios de recrutamento e seleção, ou mesmo de gestão do meu time, a partir de ideias vindas de áreas tão distintas quanto marketing, tecnologia ou até esportes. São nesses cruzamentos improváveis que nascem as inovações mais ricas.

Liderar é também se permitir aprender

Liderar não é ter todas as respostas prontas. É ter a coragem de se expor ao desconhecido, aprender no processo e transformar vulnerabilidade em potência. A cada vez que escolho ser “iniciante” em algo, percebo que cresço mais como profissional e como pessoa.

E você? Quando foi a última vez que se permitiu sair da zona de conforto e transformar a insegurança de não saber em uma oportunidade de evolução?

Referência:EXAME. Executiva usou esta estratégia para crescer fora da zona de conforto: “Ajuda a manter o entusiasmo”. Entrevista com Tina Marcondes, Head of Legal do Nubank. Publicado em 2024. Acesso em: set. 2025.

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